“Este homem se chamava Nabal, e o nome de sua mulher era Abigail. A mulher era sensata e bonita; porém o homem era grosseiro e mau; ele era da família de Calebe.” (1Sm 25.3). Nabal era um rico fazendeiro que tinha terras e muito gado ovino e caprino, na região do Monte Carmelo. Tendo sido informado que Nabal e seus empregados estava tosquiando suas ovelhas, e sendo a tosquia uma ocasião para comemorações com grandes banquetes, Davi enviou dez emissários a Nabal para pedir-lhe que compartilhasse com ele e seus soldados um pouco dessa fartura de comida. Como justificativa para esse pedido, Davi argumentou que, nos dias passados, quando os empregados de Nabal estiveram apascentando suas ovelhas onde Davi e seu exército estavam acampados, estes os tinham protegido e assistido. Nabal respondeu muito mal a este pedido de Davi, destratou seus emissários, e disse que Davi era um escravo fugitivo — "E Nabal respondeu aos criados de Davi, e disse: Quem é Davi, e quem é o filho de Jessé? Muitos servos há hoje, que fogem ao seu senhor." (1 Sm 25.10). Davi que tinha sido tão tolerante com Saul, poupando-lhe a vida por duas vezes, não teve a mesma atitude para com Nabal. Ao contrário, ao saber dessa grosseria, convocou quatrocentos dos seus homens para se vingar de Nabal. Os empregados de Nabal, mais sensatos do que ele, foram contar a Abigail, sua esposa, o que acontecera, e esta se apressou em consertar a situação, pois Davi dissera que na fazenda de Nabal não ficaria ninguém vivo. A comida já estava pronta, por isso Abigail carregou logo alguns animais com uma boa quantidade e foi encontrar-se com Davi, para tentar dissuadi-lo do ataque a Nabal. Esse nome significa tolo, insensato, e Abigail começou sua negociação dizendo que Nabal fazia jus ao seu nome e tinha cometido uma grande tolice. Mas, com muito tato, disse que Davi estava prestes a cometer outra, pois iria responder à grosseria com uma força desproporcional. Tal ato de vingança arruinaria sua carreira de futuro rei, e derramaria muito sangue inocente. E acrescentou que o Senhor é quem seria seu vingador — "Porque, na verdade, vive o Senhor Deus de Israel, que me impediu de que te fizesse mal, que se tu não te apressaras, e não me vieras ao encontro, não ficaria a Nabal até a luz da manhã nem mesmo um menino." (1 Sm 25.34). Tendo aceitado a argumentação de Abigail e a comida que ela trouxera, Davi voltou em paz para o seu acampamento. Abigail voltou para casa e encontrou seu marido em plena festa, já empanturrado de comida e bebida. Aguardou o dia seguinte para contar-lhe do perigo que ele correra e do qual ela o livrara. Nabal ficou tão assustado que teve um ataque do coração, e uns dez dias depois morreu — "Sucedeu, pois, que pela manhã, estando Nabal já livre do vinho, sua mulher lhe deu a entender aquelas coisas; e se amorteceu o seu coração, e ficou ele como pedra." (1 Sm 25.37). Davi ficou tão encantado com a sabedoria e a beleza de Abigail, que quando soube que ela ficara vúva, pediu-a em casamento. É sempre bom lembrar: “Não vos vingueis a vós mesmos, mas daí lugar à ira de Deus, pois está escrito: A vingança é minha; eu retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque se fizeres isso, amontoarás brasas sobre a cabeça dele. Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” (Rm.12.19-21).
Lucas, cujo nome significa iluminado, foi um dos companheiros do apóstolo Paulo em suas viagens missionárias. Ele é apenas mencionado por seu nome três vezes no Novo Testamento (Cl 4.14; 2 Tm 4.11; Fm 24). Era grego, originário provavelmente de Filipos e formado em medicina (Cl 4.14). Sua base cultural greco-romana, seu preparo intelectual e sua íntima relação com homens como Marcos (que também escreveu um evangelho), capacitou-o a escrever dois livros da Bíblia, apesar de não ter sido testemunha ocular dos acontecimentos que narra no Evangelho (Lc 1.2). O Evangelho que porta seu próprio nome é um tratado digno de crédito, amplo e formoso. Como os demais livros do Novo Testamento, este Evangelho foi escrito em grego entre os anos 63-68 d.C. Como historiador, somente Lucas tem o cuidado de citar eventos interligados com datas, reinados, governadores e sumo-sacerdotes, dos demais Evangelhos (Lc 1.1-4; At 1.1-2). Ao escrever Atos dos Apóstolos, um tratado sobre a Igreja Primitiva, descrevendo os relatos desde a ascenção de Jesus até a prisão de Paulo em Roma; Lucas faz menção igualmente sobre reis, procuradores e imperadores romanos em várias ocasiões (At 11.28; 25.10). O livro de Atos é uma continuação dos relatos do Evangelho de Lucas, e ambos foram destinados à Teófilo, um discípulo seu, como também aos crentes gregos em geral (Lc 1.1-4). Em muitas passagens de Atos ele emprega a primeira pessoa, e em outras ocasiões a primeira pessoa do plural. Lucas atendeu juntamente com Paulo a chamada à Macedônia, e o acompanhou a Trôade (At 16.10). Em sua viagem missionária ficou responsável pelo trabalho em Filipos por um espaço de seis anos, quando se reajunta com o apóstolo em viagem (At 17.1; 20.5). Lucas e Aristarco viajaram juntamente com Paulo a Jerusalém (At 21.18), de Cesaréia até Roma (At 27.1), sofrendo o naufrágio em Malta (At 28.2,11-14) e permanecendo com o apóstolo durante os dois períodos de emprisionamento em Roma (Cl 4.14; Fm 24). Paulo atesta esta verdade quando escreve sua segunda carta a Timóteo: "...porque só Lucas está comigo" (2 Tm 4.11). Como médico, Lucas acompanha Paulo nos seus últimos dias, dando assistência médica na prisão àquele cujo corpo estava sendo oferecido como libação, após uma grande jornada de prisões, açoites, apedrejamento, varadas, enfermidades, escassez e naufrágios. O apóstolo dos gentios agora já cansado no seu corpo abatido - o tabernáculo terrestre, recebe também encorajamento espiritual e apreço do médico amado, que apesar de livre, preferiu estar preso para acompanhar seu irmão, líder e amigo. Provavelmente, Lucas terminou seu livro na épopca da morte de Paulo. Não é certo que tipo de morte teve o amado doutor Lucas, mas duas possibilidades são aceitas pela Tradição e Pais da Igreja como Justino, Policarpo e Papias: A primeira, que foi martirizado por mão do Imperador Nero; e a segunda, que foi enforcado por um grupo de pagãos na Grécia. No evangelho segundo Lucas, Jesus é apresentado como Filho do Homem, ou o homem perfeito. Lucas relata a maioria dos acontecimentos descritos no Evangelho de Mateus, com o acréscimo de eventos anteriores ao nascimento de Cristo: Nascimento de João Batista, a visita do anjo a Maria, visita de Maria a Isabel, o cântico de Maria, e o censo romano. Lucas dá ênfase a vida de oração de Jesus, e como médico, descreve detalhes precisos sobre os milagres operados pelo Senhor, omitidos pelos demais autores dos Evangelhos. Como Mateus, Lucas escreve várias parábolas de Cristo, das quais 17 estão relatadas unicamente em seu livro.